• Université : École doctorale Histoire moderne et contemporaine (Paris)

Résumé

A forma como os grupos familiares da época pré-moderna se regulamentavam, organizavam, identificavam e reproduziam é percetível através dos arquivos organizacionais que criaram e conservaram, assim como através dos usos que lhes deram. Partindo deste pressuposto, no presente estudo, analisou-se o arquivo dos viscondes de Vila Nova de Cerveira e um conjunto de gerações familiares que contribuíram para a sua constituição e preservação entre o século XIV e o século XVII, nomeadamente os Limas, os Britos Nogueira e os Lima Brito Nogueira. Nesta análise, procurou-se compreender como estas gerações se documentaram, como transformaram a sua informação documentalizada em arquivo e como a usaram para se consolidarem enquanto grupo, com um património, memória e identidade próprios. Em suma, questionou-se como esses usos do arquivo contribuíram para a consolidação institucional da Casa dos Viscondes de Cerveira até ao século XVII. Para tal, recorreu-se a uma abordagem em Arquivística Histórica, que busca o cruzamento de teorias e metodologias da História, da Archival Science, da Ciência da Informação e da Antropologia Histórica na análise dos arquivos. O percurso de investigação partiu do presente, do questionamento do fundo Visconde de Vila Nova de Cerveira e Marqueses de Ponte de Lima e do mapeamento de documentação que se encontra dispersa por outros fundos e coleções e que pertenceu aos arquivos organizacionais dos referidos grupos, procurando-se compreender várias intertextualidades que se acumularam ao longo do tempo e que afetam a inteligibilidade do passado representado nestes documentos. Para a contextualização da informação documentalizada reconstituída para as gerações em estudo, aplicou-se o modelo sistémico proposto por Malheiro da Silva num quadro orgânico que é disponibilizado, com a descrição arquivística normalizada de uma parte da documentação utilizada na análise, através do software AtoM. Procedeu-se, ainda, à recolha de documentação que, entretanto, desapareceu, mas que é referida em inventários elaborados pelos seus membros. Ao mesmo tempo, procurou-se esclarecer as várias limitações desta reconstituição, da documentação existente e desaparecida, as opções tomadas e as operações realizadas sobre a documentação. Por fim, foi feita uma análise qualitativa do corpus reconstituído que permitiu concluir que os grupos em estudo se institucionalizaram principalmente através da transmissão de senhorios e de vínculos, formando uma família-instituição ou Casa que se organizava, a cada geração, sob a autoridade de um pater familias. Constatou-se igualmente que estas gerações usaram os seus arquivos como lugares de prova da posse de bens e privilégios, como facilitadores da gestão corrente das propriedades e dos seus rendimentos e, sobretudo a partir das gerações dos Lima Brito Nogueira, como suporte a discursos sobre a(s) memória(s) e identidade(s) do grupo. As famílias-instituição eram entidades em constante estruturação assim como o arquivo que as sustentava. A consolidação institucional dependeu, assim, de um esforço contínuo, realizado a cada geração, para transmitir um património identitário unificador e identificador do grupo a um representante da mesma geração ou da seguinte, juntamente com a documentação transformada em arquivo que apoiava essa construção.

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